Login | |

Hydrilla verticillata

Nova espécie: 

Erva aquática submersa, com tubérculos nas raízes, caules delgados e ramificados, de até 9 m, com folhas pontiagudas, acentuadamente dentadas, frequentemente em grupos de 5 por nó, e pequenas flores à superfície (femininas) ou flutuantes (masculinas).

Nome científico: Hydrilla verticillata (L. f.) Royle

Nome vulgar: hidrila

Família: Hydrocharitaceae

Estatuto em Portugal: integra a Lista Nacional de Espécies Invasoras (Anexo II, Decreto-Lei nº 92/2019, de 10 julho).

Nível de risco: Em avaliação para Portugal.

Sinonímia: Hydrilla verticillata var. brevifolia Casp.; Hydrilla verticillata var. crispa Casp.; Hydrilla verticillata var. roxburghii Casp.; Hydrilla verticillata var. tenuis Casp.; Hydrilla verticillata var. verticillata

Data de atualização: 28/08/2023

Ajude-nos a mapear esta espécie no nosso projeto de ciência cidadã  "invasoras.pt" no BioDiversity4All/iNaturalist. Contribua submetendo registos de localização desta espécie onde a observar.

Família: 

Erva aquática perene submersa, com tubérculos nas raízes; geralmente enraizada no substrato, mas por vezes forma mantos flutuantes à superfície. Caules delgados de até 9 m, muito ramificados.

Folhas: com 1-5 x 6-20 (40) mm, lineares a lanceoladas, com nervura central bem visível, avermelhada, margens acentuadamente dentadas; (3) 4 a 8 (10) folhas por nó (5 é o mais comum), verdes, translúcidas, amareladas ou castanhas; com espinhos na página inferior.

Flores: unissexuais, verdes claras ou translúcidas (por vezes, as femininas brancas), com sépalas ligeiramente avermelhadas, situadas nas axilas das folhas; espiga masculina ca. 1,5 mm, solitária, um tanto espinhosa, desprendendo-se e flutuando até encontrar flores femininas; espiga feminina ca. 5mm, solitária, com pedúnculo alongado que atinge a superfície. Em algumas localizações (por exemplo, EUA), surge tanto na forma monóica como na forma dióica.

Frutos cilíndricos, de 7 x 1,5 mm, com 2-7 sementes elípticas oblongas.

Floração: julho a agosto.

Espécies semelhantes

Egeria densa, Elodea canadensis, Elodea nuttallii e Lagarosiphon major são semelhantes mas distinguem-se de H. verticillata por esta ter folhas sésseis, (3) 4-8 (10) em cada nó, ter a nervura central da folha frequentemente avermelhada e ser a única que tem tubérculos nas raízes.

Veja a chave de distinção de algumas destas espécies aqui:

 

Características que facilitam a invasão

Reproduz-se vegetativamente através da produção de turiões durante o inverno, nas axilas das folhas, de tubérculos agarrados às raízes, frequentemente enterrados no substrato, e de fragmentos dos caules.
Cada fragmento pode ser arrastado pela corrente e originar novos focos de invasão distantes da população original.

Também se reproduz por via seminal, embora seja menos frequente.

 

Área de distribuição nativa
Distribuição geográfica ampla e bastante disjunta: Ásia Central e Sudeste Asiático (Cazaquistão, Irão, Afeganistão, Paquistão, Índia, Sri Lanka, Butão, Japão, Coreias e China, Formosa, Indonésia e Papua-Nova Guiné), Oceânia (Guam e Fiji), África (Ruanda, Burundi, Madagáscar, Zâmbia, Reunião, Congo), alguns locais na Europa (Federação Russa, Lituânia, Estónia) e, desde pelo menos o início dos anos 1960, os EUA e a área do Canal do Panamá.

Distribuição em Portugal

Não existem registos da sua ocorrência em Portugal, fora de cultivo (aquários).

Para verificar localizações mais detalhadas e atualizadas desta espécie, verifique o projeto invasoras.pt que criamos no BioDiversity4All (iNaturalist). Estes mapas ainda estão incompletos – precisamos da sua ajuda! Contribua submetendo registos de localização da espécie onde a observar.                  

Outros locais onde a espécie é invasora
África (África-do-Sul), América (Brasil, Cuba, E.U.A., Guatemala, Guadalupe, Granada, Dominica, Honduras, Jamaica, Martinica, Porto Rico), Europa (Áustria), Oceânia (Nova Caledónia).

Razão da introdução

Em vários países a sua introdução foi acidental, provavelmente na sequência de uso para fins ornamentais. Acredita-se que os primeiros registos de introduções na Europa tenham sido devidos a aves aquáticas migradoras, pois os tubérculos e os turiões podem sobreviver à ingestão e regurgitação por essas aves.

Ambientes preferenciais de invasão

Habitats de água doce, mas pode tolerar salinidades até 7% (nascentes, lagos, paúis, valas, canais, rios e zona intertidal), estando adaptada para crescer em condições de pouca luz e CO2.

Impactes nos ecossistemas

Forma massas densas que podem preencher completamente as massas de água onde invade. A invasão começa geralmente em águas escuras e mais profundas, onde a maioria das plantas não consegue desenvolver-se. Hydrilla verticillata cresce de forma agressiva e competitiva, espalhando-se por áreas mais rasas ensolaradas e formando mantos espessos em águas superficiais, que podem tornar-se tão compactos que a luz solar é bloqueada.

Compete com plantas aquáticas nativas, superando-as na colonização das massas de água. Tem também impactes na fauna nativa, reduzindo o tamanho e peso de peixes de pesca desportiva e criando habitats favoráveis para organismos que causam ou transmitem doenças; afeta as densidades de zooplâncton e fitoplâncton; reduz a diversidade de espécies de invertebrados.

Favorece a produção, por cianobactérias epífitas encontradas na H. verticillata, de uma toxina que causa mielinopatia vacuolar aviária (MAV), uma doença responsável pela morte de pelo menos 100 águias-americanas (Haliaeetus leucocephalus) e milhares de galeirões-americanos (Fulica americana) desde 1994 em vários locais nos E.U.A.

Provoca a alteração das características físicas e químicas das massas de água, afetando a estratificação da coluna de água, diminuindo os níveis de oxigénio e impedindo o movimento da água de irrigação e drenagem. Altera a qualidade da água, aumentando o pH e a temperatura da massa de água.

Impactes económicos

Devido ao seu rápido crescimento e estratégia de sobrevivência altamente eficaz, H. verticillata é uma das invasoras aquáticas mais problemáticas do mundo, superando rapidamente outras espécies de plantas e formando massas densas, que podem ocupar completamente o volume das massas de água, sendo responsável por vários impactes em termos económicos:
- Custos elevados na aplicação de medidas de controlo (embora seja cada vez mais problemática nos habitats nativos no sudeste da Ásia e Austrália, particularmente em lagos artificiais e canais de irrigação, os seus impactes são mais significativos em situações onde é exótica).
- Prejudica gravemente a utilização multi-funcional de canais, rios e lagos.
- Impede o movimento da água de irrigação e drenagem;
- Dificulta a navegação e o uso recreativo das massas de água;
- Interfere fisicamente com complexos hidroelétricos e de pesca.

Outros impactes

Como H. verticillata forma rapidamente mantos densas, torna-se impossível o uso de motores externos e a pesca, natação e outras atividades recreativas. Também pode resultar em fluxo de água reduzido e piscinas estagnadas que se tornam habitats para larvas de mosquitos.

O controlo de uma espécie invasora exige uma gestão bem planeada, que inclua a determinação da área invadida, identificação das causas da invasão, avaliação dos impactes, definição das prioridades de intervenção, seleção das metodologias de controlo adequadas e sua aplicação. Posteriormente, será fundamental a monitorização da eficácia das metodologias e da recuperação da área intervencionada, de forma a realizar, sempre que necessário, o controlo de seguimento.

As metodologias de gestão e controlo usadas em Hydrilla incluem:

Medidas preventivas

Alerta precoce: considerando que não há ainda registos desta espécie em Portugal, a deteção precoce é fundamental e depende em parte de voluntários, amantes da natureza, cidadãos cientistas e também técnicos que estejam alerta e registem as suas observações, por exemplo, no projeto de ciência cidadã "invasoras.pt" no BioDiversity4All/iNaturalist.

Resposta rápida: é crucial que no caso de deteção precoce exista, por parte das entidades responsáveis, uma resposta rápida e atempada a fim de eliminar as plantas e impedir o seus estabelecimento e a sua disseminação.

Sensibilização do público:  é essencial informar e educar o público sobre os perigos desta e de outras espécies invasoras, através de campanhas dedicadas, incluindo formas de darem o alerta precoce no caso de observação da espécie.

Apostar no bom estado de conservação de ecossistemas aquáticos e no restauro dos ecossistemas alterados/ intervencionados, ajudará a evitar o estabelecimento e a expansão desta invasora.

Controlo físico:
Arranque manual
de plantas, usando ferramentas manuais, é eficaz mas apenas em situações de início, pequenos focos, de invasão.
Remoção mecânica de plantas de canais de irrigação ou outros canais, usando máquinas, pode ser aplicada, sendo relativamente dispendiosa; inclui a utilização de alfaias de corte acopladas a um trator ou escavadora hidráulica.
Remoção mecânica de plantas de lagos, pode ser feita com recurso a diferentes máquinas que recolhem a biomassa vegetal e a depositam na margem.
Um problema associado ao uso de controlo mecânico (e mesmo manual se não for tido muito cuidado) é que os fragmentos de Hydrilla que não são removidas da água, promovem a dispersão adicional da planta. Como consequência, o uso do controlo mecânico em grandes lagos/ massas de água, sem conjugação com outros métodos de controlo, torna-se pouco viável devido aos custos muito elevados, efeitos a curto prazo e restrições logísticas. Uma alternativa a ponderar pode ser a utilização de barreiras de rede (com flutuadores numa margem e pesos na outra) que contenham a dispersão dos fragmentos aquando das intervenções.
Pode recorrer-se ao abaixamentos da massa de água, em lagos ou outras massas de água onde essa seja uma possibilidade, expondo a planta ao ar e secando-a, o que pode ajudar a contê-la.

Controlo químico:
A aplicação de herbicidas nas massas de água pode ter graves consequências para o meio ambiente e pôr em risco outras espécies e até a saúde da população local se a água for usada para beber, nadar ou lavar. O risco é maior quando o herbicida é introduzido diretamente na água para o controlo de invasoras submersas. Um problema adicional é que o uso de herbicidas pode levar ao acumulação de material vegetal em decomposição e, como consequência, a uma diminuição repentina no conteúdo de oxigénio da água. Por estas razões, a aplicação de herbicidas é fortemente desaconselhado devendo ser apenas ponderado em situações muito particulares e graves (por exemplos, massas de água fechadas, sem ligação a outras).
Hydrilla é suscetível a alguns herbicidas que podem inibir a taxa de crescimento. Os melhores resultados em termos de redução da espécie podem conseguir-se com uma combinação de controlo mecânico e químico, removendo o máximo possível da planta por meios mecânicos e aplicando depois herbicidas quando voltar a crescer. Tem sido descrito um aumento da resistência a alguns herbicidas (e.g., à fluridona na Flórida e na Geórgia, E.U.A.), o que justifica ainda mais a utilização de ouros métodos de controlo.

Devido à frequente toxicidade dos herbicidas para os invertebrados e outros organismos, incluindo plantas não alvo, não se recomenda a sua utilização nas situações próximas da água, onde há cultivo de alimentos, e outras áreas sensíveis. A sua utilização justifica-se no tratamento de casos de elevada gravidade e deverão sempre ser usados produtos comerciais homologados para uso nessas situações, respeitando a legislação da EU e nacional sobre a utilização de produtos fitofarmacêuticos e respeitando o meio, as espécies e as condições de aplicação (mais informação pode ser consultada no sistema SIFITO).

Controlo biológico:
Tem sido defendido em alguns países, sobretudo nos E.U.A. e na África do Sul, como sendo o método mais adequado para controlar invasoras aquáticas; o efeito pode ser duradouro e frequentemente menos dispendioso:
Alguns agentes de controlo biológico, nomeadamente insetos, foram introduzidos ou estão a ser considerados para introdução nos E.U.A., por entomologistas, para controlar grandes invasões de H. verticillata:
- Bagous foi introduzido com sucesso na Flórida e foi considerado como potencial agente de controle biológico de H. verticillata na Califórnia, conseguindo sobreviver ao inverno;
- a mosca-mineira-de-folhas Hydrellia pakistanae sobrevive em níveis semelhantes em genótipos de H. verticillata resistentes a fluridona e suscetíveis.
- Hydrellia purcelli, de Singapura, está a ser considerado como candidato a agente de biocontrolo na África do Sul.

Uma abordagem integrada para o controlo de H. verticillata foi aplicada no passado em Fish Lake (Flórida, E.U.A.), envolvendo a aplicação de um herbicida e subsequente libertação de carpa híbrida, como agente de controlo biológico. No entanto, a planta invasora acabou por desenvolver resistência a esse herbicida inviabilizando a aplicação do método.

Em alguns locais do Mundo recorreu-se a diferentes espécies de carpas (Ctenopharyngodon idella, Hypophthalmichthys nobilis, incluindo animais estéreis) como agentes de controlo biológico. No entanto, estes peixes alimentam-se de muitas plantas aquáticas, em particular espécies submersas (o que inclui várias espécies importantes para a conservação) e precisam ser retidos em determinadas áreas (usando cercas), para impedir que escapem. Ou seja, não se considera uma opção aceitável, exceto eventualmente em situações muito particulares (por exemplo, massas de água artificiais, fechadas, onde ocorra invasão).

Acta Plantarum (2007) In avanti - Hydrilla verticillata (L. f.) Royle - Scheda IPFI, Acta Plantarum. Disponível: https://www.actaplantarum.org/flora/flora_info.php?id=4094 [Consultado em 31/5/2020].

CABI (2020) Hydrilla verticillata. In: Invasive Species Compendium. CAB International, Wallingford, UK. Disponível: www.cabi.org/isc [Consultado 31/05/2020].

Cirujano-Bracamonte S, Meco-Molina A, García-Murillo P, Chirino-Argenta M (2014) Flora acuática española. Hidrófitos vasculares. Real Jardín Botánico, CSIC, Madrid.

Diputación General de Aragón (2019) Hydrilla verticillata. Elodea de Florida, tomillo de agua (Hydrocharitaceae). In Gobierno de Aragón (ed.) La Flora Invasora en Aragón Invasara - Especies Exóticas Invasoras Aragón: 85-101. Disponível: https://www.aragon.es/documents/20127/674325/FLORA_ACUATICA.pdf/64be8895... [Consultado em 31/05/2020]

Randall RP (2017) A Global Compendium of Weeds. 3rd Edition. Perth, Austrália Ocidental. ISBN: 9780646967493, 3356 pp.

The Plant List (2012) Hydrilla verticillata (L.f.) Royle. Version 1.1. Disponível: http://www.theplantlist.org/tpl1.1/search?q=Hydrilla+verticillata [Consultado em 31/05/2020]