Erva, perene, com rizomas, de até 3,5 m de altura, cujos caules nas extremidades fazem um ligeiro zig zag; com folhas grandes, em forma de pá ligeiramente cordadas na base e com pequenas flores brancas a cremes.
Nome científico: Reynoutria x bohemica Chrtek & Chrtková [= Fallopia x bohemica (J. Chrtek & A. Chrtková) J. P. Bailey]
Nome vulgar: sanguinária.
Família: Polygonaceae
Estatuto em Portugal: integra a Lista Nacional de Espécies Invasoras (anexo II do Decreto-Lei nº 92/2019, de 10 julho).
Sinonímia: Fallopia x bohemica (J. Chrtek & A. Chrtková) J. P. Bailey, Fallopia sachalinensis var. intermedia (Tatew.) Yonek. & H.Ohashi, Polygonum × bohemicum (Chrtek & Chrtková) Zika & Jacobson, Polygonum sachalinense var. intermedium Tatew., Reynoutria × mizushimae Yokouchi ex T.Shimizu, Reynoutria sachalinensis var. intermedia (Tatew.) Miyabe & Kudô, Reynoutria × vivax J.Schmitz & Strank
Data de atualização: 22/08/2023
Ajude-nos a mapear esta espécie no nosso projeto de ciência cidadã "invasoras.pt" no BioDiversity4All/iNaturalist. Contribua submetendo registos de localização desta espécie onde a observar.
Como reconhecer
Erva perene, com rizomas, de até 3,5 m de altura, com caules eretos, pouco ramificados, com nós bem marcados e frequentemente ocos. Tem a mesma forma de crescimento de Reynoutria japonica (um dos progenitores deste híbrido), com as terminações dos caules fazendo um ligeiro zig zag.
Folhas: ovadas, cordadas (principalmente na base dos ramos) e com ápice cuspidado, com 25 x 17 cm e com tricomas na epiderme foliar inferior.
Flores: unissexuais, com 1 a 2,5 mm de comprimento, cada flor masculina ou feminina possui os órgãos do outro sexo, porém vestigiais e não funcionais. As inflorescências são semelhantes às dos progenitores.
Floração: agosto a setembro
Espécies semelhantes
Por se tratar de um híbrido entre Reynoutria japonica e Reynoutria sachalinensis, pode ser confundida com os seus progenitores já que apresenta características intermédias entre ambos. A distinção é baseada nas folhas, na forma e tamanho, assim como, nos pelos e nos tricomas característicos encontrados na epiderme inferior das mesmas. As folhas de R. x bohemica são maiores do que R. japonica e as bases são menos truncadas, tendo as bases cordadas (principalmente nas bases dos ramos). Comparando com Reynoutria sachalinensis as folhas são bem mais pequenas, e menos cordadas.
Ver a comparação entre as espécies abaixo:
Características que facilitam a invasão
Reproduz-se por via sexuada (sementes) e por via assexuada (rizomas que se podem enterrar no solo de até 7 m e que providenciam reservas que permitem a regeneração vigorosa da planta). É altamente adaptável a diferentes ambientes e tem um crescimento muito rápido, podendo “asfixiar” a flora nativa, devido à folhagem densa que produz um forte sombreamento. Adicionalmente, produz substâncias alelopáticas que inibem o crescimento de outras plantas.
Área de distribuição nativa
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Distribuição em Portugal
Douro Litoral
Para verificar localizações mais detalhadas e atualizadas desta espécie, verifique o projeto invasoras.pt que criamos no BioDiversity4All (iNaturalist). Estes mapas ainda estão incompletos – precisamos da sua ajuda! Contribua submetendo registos de localização da espécie onde a observar.
NOTA: devido a dúvidas na identificação, alguns dos registos desta espécie podem corresponder a Reynoutria japonica e vice-versa.
Áreas geográficas onde há registo da presença de Reynoutria x bohemica
Outros locais onde a espécie é invasora
América do Norte (Canada e Estados Unidos), Austrália, Europa (Alemanha, Bélgica, Dinamarca, França, Hungria, Irlanda, Itália, Polónia e República Checa).
Razão da introdução
Não está confirmado por que via chegou a Portugal mas noutros locais a sua introdução ocorreu como planta ornamental, como planta forrageira e como controladora de erosão através da estabilização de margens de rios. Pode também chegar como contaminante de resíduos de jardim descartados em locais inapropriados.
Ambientes preferenciais de invasão
Ocorre em habitats semelhantes aos ocupados por Reynoutria japonica, principalmente em habitats ribeirinhos e ruderais.
Impactes nos ecossistemas
Afeta a biodiversidade em áreas ribeirinhas e compete com as espécies nativas, levando à criação de povoamentos monoespecíficos. Promove ainda a modificação da hidrobiologia.
Impactes económicos
Custos de controlo muito elevados; existem algumas evidências de que o híbrido é mais difícil de controlar do que qualquer dos progenitores.
Provoca danos em infraestruturas e impacta negativamente o turismo.
Outros impactes
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O controlo de uma espécie invasora exige uma gestão bem planeada, que inclua a determinação da área invadida, identificação das causas da invasão, avaliação dos impactes, definição das prioridades de intervenção, seleção das metodologias de controlo adequadas e sua aplicação. Posteriormente, será fundamental a monitorização da eficácia das metodologias e da recuperação da área intervencionada, de forma a realizar, sempre que necessário, o controlo de seguimento.
O controlo desta espécie em linhas de água é um desafio difícil, especialmente por todos os cuidados que é preciso ter nestas áreas sensíveis e pelas restrições aplicadas ao uso de produtos químicos, portanto, os métodos de controlo são limitados. A sensibilização do público pode ser uma arma de prevenção importante. Os veículos devem ser inspecionados quando mudam de locais invadidos, para locais sem a presença desta espécie.
Como prioridade, devem adotar-se medidas preventivas que impeçam o estabelecimento desta espécie (e de outras invasoras), que incluam, por exemplo:
- Apostar no bom estado de conservação de ecossistemas ripícolas e restauro dos ecossistemas alterados/ intervencionados, o que ajudará a evitar o estabelecimento e a expansão da invasora.
- Controlar o destino dos solos "contaminados" com Reynotria de forma a evitar a sua transferência e reutilização.
Mais informação, incluindo sobre "O que fazer", "O que não fazer" e o Grupo de Trabalho Fallopia, pode ser consultada AQUI.
As metodologias de controlo usadas em Reynoutria x bohemica incluem:
Controlo físico
Arranque manual: Nos casos em que a planta já está estabelecida, os métodos de controlo possíveis incluem o arranque de rizomas. No entanto, para este método ser eficaz têm de ser removidos todos os fragmentos, o que pode não ser fácil. Os rizomas podem ser encontrados no solo até uma profundidade de 7 m, tornando-se a sua remoção muito trabalhosa, demorada e dispendiosa e exigindo mão de obra com material adequado (crivos , etc.). Todos os fragmentos extraídos, uma vez retirados, devem ser completamente destruídos (por exemplo, deixar secar e depois queimar) ou removidos para local seguro (onde não possam dar origem a uma nova planta). Este método só é válido para os casos de invasões pequenas, muito localizadas. Estas ações podem não ser muito eficazes, porque a planta possui mecanismos de regeneração e os fragmentos resultantes podem converter-se em propágulos que contribuem para aumentar a extensão da invasão. Todas as ferramentas utilizadas nas intervenções devem ser cuidadosamente limpas de forma a não transportar fragmentos para outros locais onde originarão novos focos de invasão - fragmentos com poucos cm dão origem a uma nova planta. Para que exista alguma eficácia, deve realizar-se a cada 15 dias ao longo do período vegetativo, durante pelo menos 2 anos.
Em pequenas áreas invadidas, já foram utilizados geotêxteis com sucesso para evitar a regeneração após o corte. Este método consiste em cobrir o solo com uma tela de geotêxtil (existente no mercado para proteger taludes contra a erosão, ou evitar o crescimento de ervas daninhas em jardins) e uma camada adicional de 40cm de solo (livre de espécies invasoras). Uma vez que os rizomas se podem espalhar subterraneamente, recomenda-se cobrir até um raio de 2,5m de distância do limite da área onde foram detetadas as plantas (esta distância varia entre diferentes experiências). Assim elimina-se toda a vegetação existente, incluindo os indivíduos de Reynoutria x bohemica. O custo associado é elevado e exige que se coloquem espécies autóctones, para ocupar a área e competir com eventuais rebentos da invasora, imediatamente após a intervenção.
Podem também fazer-se cortes sucessivos, MUITO frequentes e repetidos, permitindo que a planta volte a crescer até desenvolver bem as folhas e caules aéreos (para esgotar alguma da energia armazenada nos rizomas), mas APENAS quando se tem um destino seguro para a biomassa resultante e tendo sempre muito cuidado na limpeza das ferramentas usadas.
Outro método é o pastoreio intensivo com animais domésticos, pelo menos por 5 anos. Este método é dificilmente aplicável em zonas fluviais, onde o movimento dos animais pode danificar os canais e ao longo de vias de comunicação.
Controlo físico + químico
Esta espécie é resistente a quase todos os herbicidas. Um dos poucos princípios ativos utilizados com êxito é o glifosato, embora devido à sua toxicidade para os invertebrados aquáticos e outros organismos não seja recomendada a sua utilização nas situações próximas da água, onde há cultivo de alimentos, e outras áreas sensíveis. A sua utilização justifica-se no tratamento de casos de elevada gravidade e deverão sempre ser usados produtos comerciais homologados para uso nestas situações, o que ainda carece de atualização em Portugal (mais informação pode ser consultada no sistema SIFITO). Como exemplo prático de tratamento com glifosato, usado com sucesso noutros países, pode referir-se:
- 1ª fase: corte após o primeiro "surto" de primavera (como orientação, refere-se maio/ junho mas pode variar com a região); reduz-se a vitalidade da planta; reduz-se a altura do próximo recrescimento (≤1,30 m). Voltar a cortar uma segunda vez.
- 2ª fase: pulverização com herbicida (glifosato a 0,7%) (Setembro-Outubro); as plantas estão na fase de pós-floração e perto do final do período vegetativo.
- 3ª fase: restauração por plantação de alta densidade de espécies (ripícolas se for num ambiente ripícola).
OU, em alternativa:
– 1ª fase: pulverização das folhas aos 15 dias do aparecimento dos caules com uma dose de Roundup de 6 l/Ha durante as primeiras horas da manhã, ou últimas da tarde;
– 2ª fase: repetição da pulverização dois meses após a primeira aplicação para destruir os rebentos das gemas que não foram afectadas, ou o foram de forma insuficiente, acompanhada de uma escavação previa do solo até 50 cm de profundidade;
– 3ª fase: após dois meses da segunda aplicação de herbicida realizar uma nova escavação mecânica sobre os restos para melhorar a ação do glifosato diretamente sobre os rizomas.
Outra alternativa é a injeção de herbicida diretamente nos caulee; trata-se de uma técnica exigente em termos de aplicação (é aplicado caule a caule), mas que pode produzir resultados muito bons quando as áreas invadidas não são extensas.
Controlo biológico
Como se trata de um híbrido recente é improvável que exista algum agente de controlo biológico específico para a Fallopia x bohemica e será uma questão de selecionar agentes específicos dos seus progenitores. Depois de vários agentes estudados, foi libertado em Inglaterra (em 2010) e na Holanda (em 2020) um inseto (a psila Aphalara itadori Shinji), originário do Japão, num programa de luta biológica contra Reynoutria japonica. No entanto, até à data, e ainda que o inseto tenha sobrevivido, o seu estabelecimento em Inglaterra e o aumento das populações está muito aquém do esperado não resultando no controlo substancial da espécie-alvo. Na Holanda, o estabelecimento, ainda que muito preliminar, parece ser mais positivo.
Outra hipótese é utilizar certos compostos fitotóxicos de origem fúngica /e.g., Mycosphaerella), tendo a Universidade de Montana isolado 25 fitotoxinas diferentes susceptíveis de ser utilizadas como fitocidas naturais contra esta planta.
Visite a página Como Controlar para informação adicional e mais detalhada sobre a aplicação correta de algumas destas metodologias.
Almeida JD (2018) New additions to the exotic vascular flora of continental Portugal. Flora Mediterranea 28: 259-278.
CABI (2012) Fallopia x bohemica. In: Invasive Species Compendium. CAB International, Wallingford, UK. Disponível: http://www.cabi.org/isc/ [Consultado 21/04/2020].
The Plant List (2013) Fallopia x bohemica. Versão 1.1. Disponível: http://www.theplantlist.org/ [Consultado 21/04/2020].