Árvore perene, de folhas compostas, verde-escuras e flores reunidas em “bolinhas” amarelo-pálido.
Nome científico: Acacia mearnsii De Wild.
Nomes vulgares: acácia-negra, acácia
Família: Fabaceae (Leguminosae)
Estatuto em Portugal: integra a Lista Nacional de Espécies Invasoras (anexo II do Decreto-Lei nº 92/2019, de 10 julho).
Nível de risco: 27 | Valor obtido de acordo com um protocolo adaptado do Australian Weed Risk Assessment (Pheloung et al. 1999), por Morais et al. (2017), segundo o qual valores acima de 13 significam que a espécie tem risco de ter comportamento invasor no território Português | Actualizado em 30/09/2017.
Sinonímia: Acacia decurrens var. mollis Lindl., A. decurrens var. mollis Willd., A. mollissima sensu auct, A. molissima Willd., Racosperma mearnsii (De Wild.) Pedley
Data de atualização: 27/07/2023
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Como reconhecer
Árvore de até 10 m; ramos com sulcos superficiais; ápices jovens dourados, devido aos numerosos pelos com essa tonalidade.
Folhas: perenes, verde-escuras, finamente pilosas, recompostas, de 3-14 cm de comprimento, com 8-25 pares de pínulas, por sua vez com 30-70 pares de folíolos, estes com 1,5-4 x 0,5-0,8 mm; ráquis central da folha com glândulas de tamanhos diferentes distribuídas irregularmente.
Flores: amarelo-pálidas reunidas em capítulos de 5-6 mm de diâmetro.
Frutos: vagens castanho-escuras, comprimidas, ± retas, contraídas entre as sementes.
Floração: março a maio.
Espécies semelhantes
Acacia dealbata (mimosa) é semelhante mas tem folhas verde-acinzentadas e o ráquis apresenta glândulas apenas na zona de inserção das pínulas; as flores são amarelas mais vivo e mais precoces no ciclo sazonal.
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esq – A. mearnsii dir – A. dealbata
Há várias espécies de acácias em Portugal que apresentam características muito semelhantes. Se tem dificuldade em distingui-las consulte a chave simplificada que preparámos para identificar as espécies do género.
Características que facilitam a invasão
Reproduz-se por via seminal produzindo muitas sementes, que permanecem viáveis no solo mais de 50 anos. A dispersão das sementes faz-se pelo vento, animais ou água. A germinação é estimulada pelo fogo.
A espécie também se reproduz por via vegetativa, formando rebentos vigorosos de touça e raiz.
Área de distribuição nativa
Sudeste da Austrália e Tasmânia.
Distribuição em Portugal
Portugal continental (Minho, Douro Litoral, Beira Litoral, Beira Baixa, Estremadura, Ribatejo, Alto Alentejo, Baixo Alentejo, Algarve), arquipélago da Madeira (ilha da Madeira).
Para verificar localizações mais detalhadas e atualizadas desta espécie, verifique o projeto invasoras.pt que criamos no BioDiversity4All (iNaturalist). Estes mapas ainda estão incompletos – precisamos da sua ajuda! Contribua submetendo registos de localização da espécie onde a observar.
Áreas geográficas onde há registo da presença de Acacia mearnsii
Outros locais onde a espécie é invasora
África do Sul, algumas regiões dos EUA, Europa (Espanha, França, Turquia), Nova Zelândia.
Razão da introdução
Para fins ornamentais e para extração de taninos.
Ambientes preferenciais de invasão
Áreas perturbadas, margens de linhas de água e áreas urbanas. Ocorre de 0 a 850 m e suporta geadas frequentes.
Apresenta uma área de distribuição relativamente limitada em Portugal continental.
Impactes nos ecossistemas
Forma povoamentos densos impedindo o desenvolvimento da vegetação nativa. Em Portugal não é das espécies mais dispersas conhecendo-se relativamente poucas (quando comparada com A. dealbata, A. melanoxylon ou A. longifolia) situações onde se verifica este nível de impactes.
Produz muita folhada rica em azoto, que promove a alteração do solo.
Impactes económicos
Potencialmente, custos elevados na aplicação de medidas de controlo.
Habitats Rede Natura 2000 mais sujeitos a impactes
– Dunas com floresta de pinheiro-manso (Pinus pinea) e/ou pinheiro-bravo (Pinus pinaster) (2270).
O controlo de uma espécie invasora exige uma gestão bem planeada, que inclua a determinação da área invadida, identificação das causas da invasão, avaliação dos impactes, definição das prioridades de intervenção, seleção das metodologias de controlo adequadas e sua aplicação. Posteriormente, será fundamental a monitorização da eficácia das metodologias e da recuperação da área intervencionada, de forma a realizar, sempre que necessário, o controlo de seguimento.
As metodologias de controlo usadas em Acacia mearnsii incluem:
Controlo físico
Arranque manual: metodologia preferencial para plântulas e plantas jovens. Em substratos mais compactados, o arranque deve ser realizado na época das chuvas de forma a facilitar a remoção do sistema radicular. Deve garantir-se que não ficam raízes de maiores dimensões no solo.
Corte com motorroçadora: metodologia preferencial para plântulas resultantes de germinação que tenham ainda dimensões muito pequenas (< 20 cm). Deve aplicar-se apenas em dias quentes desde que respeitando as condições de segurança.
Descasque: metodologia preferencial para plantas adultas com casca sem feridas. Fazer uma incisão em anel, contínuo, à volta do tronco, à altura que for mais confortável para o aplicador e remover toda a casca e câmbio vascular até à superfície do solo, se possível até à raiz. Deve realizar-se apenas quando o câmbio vascular estiver ativo o que pode variar de local para local; as melhores épocas para realização coincidem frequentemente (mas nem sempre) com primavera e outono, em que ocorrem temperaturas mais amenas e alguma humidade.
Controlo químico
Aplicação foliar de herbicida: aplica-se a rebentos jovens (25-50 cm de altura) ou germinação elevada. Pulverizar com herbicida (princípio ativo: glifosato) limitando a aplicação à espécie-alvo.
Injeção com herbicida: aplica-se a plantas adultas. Aplicação de herbicida diretamente no sistema vascular da planta por uma das seguintes técnicas:
1) Golpe: fazer vários cortes (com um machado, inchó ou serrote), à altura que for mais conveniente para o aplicador, num ângulo de 45° até ao alburno, e injetar imediatamente (impreterivelmente nos segundos que se seguem) em cada golpe cerca de 1ml (0,5 a 2ml consoante o tamanho do corte) de herbicida com um esguicho.
Os vários cortes devem ser realizados à mesma altura do tronco de forma a quase se tocarem, deixando ca. 2-4 cm de casca por cortar entre eles. Para indivíduos de menores dimensões apenas são necessários 2 ou 3 cortes, e não devem ser profundos (para evitar que a planta parta).
2) Furos: fazer furos (com um berbequim) de ca. 10 cm de profundidade à volta do tronco e em cada um aplicar imediatamente (impreterivelmente nos segundos que se seguem) herbicida (1 ml) com um esguicho.
Os furos devem ser realizados à altura do tronco que for mais conveniente para o aplicador, num ângulo de ca. 45° (para evitar o escorrimento do herbicida) e com intervalos de 5-10 cm entre eles. O número de furos a realizar depende do diâmetro da planta.
Devido à frequente toxicidade dos herbicidas para os invertebrados e outros organismos, incluindo plantas não alvo, não se recomenda a sua utilização nas situações próximas da água, onde há cultivo de alimentos, e outras áreas sensíveis. A sua utilização justifica-se no tratamento de casos de elevada gravidade e deverão sempre ser usados produtos comerciais homologados para uso nessas situações, respeitando a legislação da EU e nacional sobre a utilização de produtos fitofarmacêuticos e respeitando o meio, as espécies e as condições de aplicação (mais informação pode ser consultada no sistema SIFITO).
Controlo físico + químico
Corte combinado com aplicação de herbicida: aplica-se a plantas adultas ou jovens já com dimensões relativamente elevadas. Pode ser aplicado de duas formas distintas:
- Corte do tronco tão rente ao solo quanto possível e aplicação imediata (impreterivelmente nos segundos que se seguem) de herbicida (princípio ativo: glifosato) na touça. Se for bem aplicado deve eliminar (ou reduzir significativamente) a formação de rebentos de touça. No entanto, é frequente que ocorra a formação de rebentos de raiz (separados da touça cortada), estes devem ser eliminados através de corte, arranque ou pulverização foliar com herbicida (princípio ativo: glifosato); até 25 a 50 cm de altura. Rebentos de maiores dimensões (a partir de 2-3 cm de diâmetro) podem ser descascados ou repetir a metodologia inicial (corte com aplicação de herbicida).
- Corte do tronco tão rente ao solo quanto possível + espera (alguns meses, que podem variar conforme as condições ambientais) para formação de rebentos, até que estes atinjam 25 a 50 cm de altura + pulverização com herbicida (princípio ativo: glifosato) limitando a aplicação à espécie-alvo.
Controlo biológico
O gorgulho Melanterius maculatus Lea (Coleoptera: Curculionidae) tem sido utilizado com sucesso na África do Sul. Esta espécie alimenta-se de sementes de A. mearnsii, causando a redução do número de sementes em algumas áreas, apesar do nível de destruição das sementes não ser ainda muito elevado. Este agente está atualmente a ser testado em Portugal, de forma a verificar a sua segurança relativamente às espécies nativas; uma vez que os testes não estão concluídos, a sua utilização ainda não constitui uma alternativa no nosso país.
A vespa Dasineura rubiformis Rübsaamen (Diptera: Cecidomyiidae) tem sido utilizada com sucesso na África do Sul. Esta espécie forma galhas nas gemas florais de A. mearnsii impedindo a formação das sementes. Este agente não foi ainda testado em Portugal, de forma a verificar a sua segurança relativamente às espécies nativas, pelo que a sua utilização ainda não constitui uma alternativa no nosso país.
Fogo controlado
Pode ser utilizado estrategicamente com o objetivo de estimular a germinação do banco de sementes, e.g., após controlo dos indivíduos adultos (com a gestão adequada da biomassa resultante) ou para eliminação de plantas jovens. Tem como grande vantagem a redução do banco de sementes, quer destruindo uma parte das sementes quer estimulando a germinação das que ficam.
Visite a página Como Controlar para informação adicional e mais detalhada sobre a aplicação correta de algumas destas metodologias.
Agricultural Research Council – Plant Protection Research Institute – weed">Weed Research Division (2014) Management of invasive alien plants: A list of biocontrol agents released against invasive alien plants in South Africa. Disponível: http://www.arc.agric.za/arc-ppri/Documents/WebAgentsreleased.pdf [Consultado 16/10/2014].
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Dennill GB, Donnelly D, Stewart K, Impson FAC (1999) Insect agents used for the biological control of Australian Acacia species and Paraserianthes lophanta (Willd.) Nielsen (Fabaceae) in South Africa. African Entomology: Memoir no.1: 45-54.
Marchante H, Morais M, Freitas H, Marchante E (2014) Guia prático para a identificação de Plantas Invasoras em Portugal. Coimbra. Imprensa da Universidade de Coimbra. 207 pp.
Morais MC, Marchante E, Marchante H (2017) Big troubles are already here: risk assessment protocol shows high risk of many alien plants present in Portugal. Journal for Nature Conservation 35: 1–12
Pheloung PC, Williams PA, Halloy SR (1999) A weed risk assessment model for use as a biosecurity tool evaluating plant introductions. Journal of Environmental Management. 57: 239-251.